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Sociedade
Homenagem aos produtores de vinho verdelho dos biscoitos
10 novembro 2011

Caras e caros convidados,

Minhas Senhoras e Meus Senhores,

 

O Vinho Verdelho dos Biscoitos é uma das imagens de marca do Concelho da Praia da Vitória.

A produção vinícola nesta freguesia perde-se nos tempos, sendo desconhecido o seu começo. Certo, contudo, é que esta cultura já existia pouco depois do Povoamento, já que no século XVI, o Verdelho dos Biscoitos abastecia as caravelas que cruzavam as rotas das Índias e das Especiarias.

O vigor da vinha nos Biscoitos levaria Gaspar Frutuoso a referir-se ao “Biscoito de Pero Anes do Canto” nestes termos: «Este Biscoito [que] se chama de Biscoito Gordo (…) [tem] uma légua de comprido pela costa do mar e meia légua de largo do mar à serra, tudo plantado de vinhas e grandes pomares, a mais fresca coisa neste género que há em toda a ilha, onde se dá infinidade de vinhas (…)».

Mas mais do que a imagem que ficava na retina perante a “grandeza” das vinhas dos Biscoitos do Porto da Cruz, como era conhecida a terra naquela altura, o que mais ressaltava à vista era o “talento e a inventiva” dos homens que fizeram brotar vinho da negra lava que escorre da terra para o mar; “talento e inventiva” que fez espantar o holandês Linschoten, que os sublinhou nos seus escritos sobre a Ilha Terceira.

Esse esforço hercúleo dos desbravadores dos Biscoitos, do qual resultou a construção de uma paisagem identitária em volta da vinha e do vinho, continuou, atravessando inúmeras gerações.

Com o passar dos anos, a cultura do Verdelho conheceu o seu auge e o seu declínio, fruto de várias circunstâncias: o Oídio, no século XIX, e a Filoxera nos anos 70 e 80 do século passado, causaram grande destruição; a mudança dos modos de vida no final do século XX e o progressivo abandono da prática agrícola como subsistência geracional fizeram decrescer a área vitivinícola biscoitense; e a pressão urbanística a que se sujeitou a freguesia foi um duro golpe para os vinhedos dos Biscoitos.

Hoje, a produção de Vinho Verdelho vive do empenho, da dedicação e do entusiasmo de um grupo de produtores que vão remando contra a maré e, convictos da sua acção, têm elevado o Verdelho, néctar cujas qualidades são reconhecidas em muitas partes do planeta.

Daí que esta homenagem faça todo o sentido. Porque expressa o singelo reconhecimento público por estes homens, por estas famílias que contrariam o desinteresse alargado por esta cultura agrícola.

A cada um de vós, em nome pessoal e em nome do Município da Praia da Vitória, endereço pois um sentido agradecimento, estando certo que a História vos guardará como aqueles que não deixaram o Verdelho desaparecer por entre o mato que tem invadido as vinhas deste Concelho.

 

Minhas Senhoras e Meus Senhores,

A paisagem é um valor essencial à afirmação dos Povos, como o é a sua identidade cultural e a independência política de uma Nação.

A riqueza de um território depende também de um desenvolvimento que respeita e valoriza a paisagem, garanta a sua sustentabilidade e, em cada época, saiba tirar dela o melhor fruto.

A paisagem da Vinha dos Biscoitos, protegida por legislação regulamentar, tem valor económico pelo produto que oferece, mas tem também um enorme valor cultural, assenta na beleza e na memória que encerra.

O Concelho da Praia da Vitória ficaria mais pobre se a paisagem vitivinícola dos Biscoitos deixasse de existir. Os praienses ficariam a perder se as curraletas de negra pedra deste recanto se esfumassem na voracidade do crescimento urbanístico. A Região perderia parte da sua história se a cultura vínica dos Biscoitos desaparecesse.

Neste momento, é difícil perspectivar o regresso da pujança produtiva que a vinha dos Biscoitos já teve. Mas a qualidade do vinho Verdelho dos Biscoitos – cujo mérito tem vindo a ser reconhecido além-fronteiras – e o crescente interesse turístico por esta paisagem são razões que justificam a sua protecção e constante valorização.

A produção tem vindo a registar bons indicadores. E os circuitos turísticos locais contam cada vez mais com a paisagem vitivinícola dos Biscoitos.

Neste ponto, é importante não nos esquecermos que os fluxos turísticos mais cultos, que são aqueles que nos garantem maiores receitas, procuram locais e paisagens com história. Daí que a oferta turística ligada à paisagem vitivinícola desta freguesia não possa descurar este facto.

As paisagens tradicionais – como a dos Biscoitos – devem, pois, ser defendidas e valorizadas.

Daí que a homenagem que hoje fazemos a estes produtores contenha também um agradecimento a estes homens pela defesa da paisagem tradicional dos Biscoitos que resulta da resistência que impõem na produção do Verdelho.

Durante séculos, os habitantes deste local perceberam que os ventos predominantes do Sul, interceptados pela Serra de Santa Bárbara, perdiam humidade à passagem para a costa Norte, potenciando o microclima aqui existente e que é fundamental para que a cultura da vinha aqui vingasse.

Hoje, cada um de nós terá de perceber que os ventos do desenvolvimento, oriundos de diversos quadrantes, nos enganam com rentabilidades rápidas em curtos períodos de tempo, mas que tais ganhos, a longo prazo, são nefastos para uma paisagem, uma actividade e uma cultura que perdurou no tempo.

Daí o meu apelo, pessoal e em nome do Município da Praia da Vitória, para que o desenvolvimento dos Biscoitos, que de quer a bem da população, não ponha em causa este património.

A rentabilidade da vinha dos Biscoitos não se esgota na dimensão do néctar que produz. Tenhamos isso bem presente! São várias as soluções: produções gourmet, vocacionadas e orientadas para nichos de mercado específicos e exigentes ou variados produtos turísticos que recuperam a memória desta cultura são possibilidades para o usufruto da paisagem vitivinícola dos Biscoitos.

Os produtores que hoje homenageamos perpetuaram no tempo uma cultura ancestral. Às novas gerações exige-se não só a sua continuação como, acima de tudo, novas formas de rentabilizar este património.

Os produtores que hoje homenageamos souberam usar o conhecimento do passado e a tecnologia do seu tempo para continuar a produzir o Verdelho que nos orgulha enquanto praienses; às novas gerações pede-se que utilizem as tecnologias e as técnicas do seu tempo para preservar esta parte da nossa herança cultural.

A produção vitivinícola dos Biscoitos é o testemunho do vulcanismo da ilha; é o resultado das particularidades do clima; é fruto do engenho do homem, que entendeu os benefícios da pedra negra, as vicissitudes do microclima local e as capacidades das castas que aqui podiam florescer e perdurar.

Olhando para a paisagem da vinha dos Biscoitos podemos falar do nascimento das ilhas, da sua ligação às tremuras da terra e ao clima que nos afecta e nos deixa perder o olhar no horizonte; esta paisagem mostra-nos as dinâmicas do povoamento, a evolução deste Povo, o seu passado e o seu presente. Toda a nossa História está presente e vive encerrada nestas curraletas que resguardam o Verdelho das intempéries.

Todo este património é um bem que os produtores que aqui homenageamos têm sabido guardar. É esta riqueza que, muitas vezes, nos esquecemos de lhes agradecer.

 

Caras amigas e caros amigos,

Hoje, na incerteza dos tempos que correm, fruto da inclemência capitalista, a produção – particularmente aquela originada em territórios pequenos – enfrenta desafios ainda maiores do que noutras partes do mundo.

Em nome de uma falsa ideia de progresso, muitos podem ser tentados a pôr de parte o conteúdo cultural e patrimonial das paisagens tradicionais de um território, preferindo o ganho fácil e imediato à riqueza duradoura e sustentada que beneficia a sua e as posteriores gerações.

Reconheço que este argumento pode provocar ecos reduzidos quando as necessidades presentes são mais urgentes de responder. Mas estou convicto de que é possível rentabilizar sem pôr em causa a sobrevivência da fonte dessa rentabilização.

O “talento e a inventiva” que Gaspar Frutuoso reconheceu aos obreiros das vinhas dos Biscoitos são, porventura, o segredo para a subsistência desta herança cultural.

Nos últimos anos, a vinha dos Biscoitos tem merecido um novo olhar.

O Verdelho dos Biscoitos tem ganho lugar em muitas recepções oficiais; tem tido assento em jantares de Estado; tem despertado o interesse regional, nacional e internacional.

No início da década de 90, esta paisagem integrou a legislação regional que regulamenta as zonas vitivinícolas, demarcando os Biscoitos como região de produção de vinho licoroso de qualidade.

Poucos anos antes, a criação do Museu do Vinho pela Casa Agrícola Brum deu um novo alento a esta produção. O Museu é hoje um marco na divulgação da história vitivinícola local e no Enoturismo.

Em 1993, a criação da Confraria do Vinho Verdelho dos Biscoitos foi outro passo fundamental na defesa desta paisagem.

Estes são alguns exemplos do novo olhar que tem recaído sobre a vinha dos Biscoitos.

O Município da Praia da Vitória tem também procurado, dentro das suas possibilidades, contribuir para a defesa e divulgação do Verdelho dos Biscoitos. Temo-lo feito através da Associação de Municípios Portugueses do Vinho; temo-lo feito na Feira de Gastronomia que promovemos anualmente; e temo-lo feito no apoio às actividades inseridas no Dia Europeu do Enoturismo, actividades essas que voltamos a apoiar já no próximo dia 12 de Novembro, tendo os Biscoitos como centro da iniciativa.

E continuamos receptivos a apoiar, dentro do possível iniciativas que protejam, divulguem e promovam a paisagem, a produção e o património vitivinícola dos Biscoitos.

Mas é fundamental que as novas gerações se convençam que dependerá do seu empenho pessoal o futuro desta herança. A rentabilidade que este sector pode oferecer é proporcional à criatividade e à energia que cada novo proprietário ou produtor coloque no seu projecto.

Cada um dos produtores que hoje homenageamos sabe isso. Porque o seu sucesso radica nessa atitude. Seguir o seu exemplo é “meio caminho andado!”, como diz o nosso povo na sua sabedoria secular.

 

Minhas senhoras e meus senhores,

A vinha e o Verdelho dos Biscoitos são um património deste Concelho e desta Região.

A paisagem que a engloba, o vinho que dela se extrai e a herança cultural que representa são elementos que não podemos descurar, porque fazem parte da nossa história, da nossa identidade, do nosso ser enquanto ilhéus, enquanto permanentes colonos destas rochas vulcânicas isoladas pelo oceano, mas abertas ao mundo.

Cada um destes produtores tem o basalto negro nos ossos, o verdelho no sangue e o “talento e a inventiva” de Pero Anes do Canto na mente. Do seu sonho, do seu suor, da sua convicção continua a jorrar um dos mais preciosos néctares que o negro basalto nos deu.

Na luta constante pela manutenção das suas produções, fazem perdurar uma história e uma herança cultural que não se esgotam no simples cultivo das videiras. Possibilitam que a nossa vivência enquanto Comunidade se exponha nestas curraletas.

Por tudo isso, merecem o reconhecimento sincero deste Concelho.

A cada um de vós, um sincero abraço de agradecimento pelo que têm dado a todos nós.

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